LINGUAGEM,
LÍNGUA E FALA PARA SAUSSURE
Linguagem é todo sistema de sinais convencionais que nos
permite realizar atos de interação e comunicação. Pode ser verbal e não-verbal.
A linguagem é uma faculdade humana, uma capacidade que
os homens têm para produzir, desenvolver, compreender a língua e outras
manifestações simbólicas semelhantes à língua.
A linguagem é heterogênea e multifacetada: ela tem
aspectos físicos, fisiológicos e psíquicos, e pertence tanto ao domínio
individual quanto ao domínio social. O que Saussure pensa é que os homens têm
uma capacidade para produzir sistemas simbólicos, ou seja, sistemas de
conceitos associados a uma determinada forma, como a língua, as artes
plásticas, o cinema, o teatro, a dança. Essa capacidade é a linguagem.
Para Saussure, é impossível descobrir a unidade da
linguagem. Por isso, ela não pode ser estudada como uma categoria única de
fatos humanos.
LÍNGUA
A língua é um princípio de classificação: uma forma de
interpretar, organizar e categorizar o mundo.
Língua é um tipo de linguagem; é a única modalidade de linguagem baseada em
palavras.
Língua é a linguagem verbal
utilizada por um grupo de indivíduos que constitui uma comunidade.
Por
que a língua é um produto social?
A língua é um fenômeno que está além do domínio
individual de cada um de nós.
É produto de uma comunidade, ela é parte do domínio
dessa comunidade.
As línguas não se limitam a uma ou outra pessoa. Elas
nascem e se desenvolvem no âmbito de um grupo social, não no âmbito individual.
Uma consequência do fato de a língua ser social é ela
ser também convencional: ela existe e se mantém por um acordo coletivo tácito
entre os falantes.
Isso significa que um falante de uma língua não pode
fazer modificações nessa língua a seu bel prazer.
A comunicação humana seria impossível se a língua não
fosse convencional.
Todas as manifestações da faculdade da linguagem, a
língua é a que mais bem se presta a uma definição autônoma. Por isso, ela ocupa
um lugar de destaque entre as manifestações da linguagem, e, como tal, deve ser
tomada como base para o entendimento de todas essas outras manifestações.
A linguagem é uma capacidade humana, da qual a língua
é um produto.
A língua é um fenômeno social e convencional.
Diferentemente da linguagem a língua é uma parte bem
definida e essencial da faculdade da linguagem.
É um produto social da faculdade da
linguagem e um conjunto de convenções necessárias, estabelecidas e adotadas por
um grupo social para o exercício da faculdade da linguagem.
A língua é uma unidade por si só, pois trata-se de um
fenómeno que está além do domínio individual de cada um de nós.
É produto de uma comunidade, ela é parte do domínio
dessa comunidade.
Ela não se limita a uma ou outra pessoa. Ela nasce e
se desenvolve no âmbito de um grupo social, não no âmbito individual.
Uma consequência do fato de a língua ser social é ela
ser também convencional: ela existe e se mantém por um acordo coletivo tácito
entre os falantes.
A
língua é
coletiva e social.
Ela é sistemática: quer dizer que ela é um sistema, ou seja, um
conjunto organizado em que um elemento se define pela oposição a outros.
Independente (não é uma função do falante).
Produto que o indivíduo registra passivamente e é um
sistema de signos.
FALA
Fala é a realização concreta da língua, feita por um
indivíduo da comunidade em um
determinado momento. É um acto individual que cada membro pode efetuar com o
uso da linguagem verbal. Daí que se pode resumir como manifestação ou
concretização a língua.
Diferentemente da língua, a fala é assistemática por ser acto individual (particular
e dependente) da vontade do falante; isto é, ao falar, o falante precisa fazer
opções por uma ou outra maneira de dizer a mesma coisa, fazer escolha entre
vocabulários; ou seja, a fala é o
lugar da fantasia, da liberdade,
da diversidade (conotação).
Para Saussure, a fala não deve ser estudada pela
linguística, pois é secundária e assistemática.
Pessoas que falam a mesma língua conseguem
comunicar-se porque, apesar das diferentes falas, há o uso da mesma língua. Ou
seja, o código é o mesmo, embora a realização varie.
Filosofia
da linguagem
Filosofia da linguagem, resumidamente, pode ser
definida como parte da Filosofia que se dedica na reflexão da essência e
natureza dos fenómenos linguísticos. Trata de um ponto de vista filosófico da
natureza do significado linguístico, da referência, do uso da linguagem, do
aprendizado da linguagem, da criatividade dos falantes, da compreensão da
linguagem, da interpretação, dos aspectos linguísticos do pensamento e da
experiência, da sintaxe, da semântica e da pragmática.
Breve
historial do interesse da Filosofia pela linguagem
O interesse da filosofia pela linguagem, isto é,
Filosofia da linguagem, pode ser encontrada já nos textos de Platão,
Aristóteles e em autores estóicos na antiguidade clássica. Passando pela
escolástica tomista que via na linguagem como um meio de comunicação dos
conceitos, até Guilherme de Ockham, que via na linguagem nominal a subsituição
dos mesmos. É com todo este cenário que testemunha uma importante simpatia da
filosofia na análise da linguagem.
Os pré-socráticos ou simplesmente os clássicos se
destacaram, de forma genérica, na
sua tentativa de reflectirem sobre duas questões que os preocupavam, no que diz
respeito à linguagem:
-
Primeira:
a questão da origem da linguagem (se
proveniente dos deuses ou elaborada pelo homem?);
-
Segunda:
a questão da natureza da linguagem (se
as palavras são signos convencionais ou
naturais das coisas?).
Donde Pitágoras, Demócrito, Empédocles são de opinião que
a linguagem tem a sua origem dos deuses ou da natureza; os sofistas derivam a
linguagem e sua função da convenção; Aristóteles é da opinião que a linguagem
tem a sua origem convencional e a sua função é natural. Para Herder, a origem
da linguagem é natural.
A linguagem torna-se um conceito filosoficamente
importante sobretudo na medida em que, a partir do pensamento moderno, passa-se
a considerá-la como elemento estruturador da relação do homem com o real. A
partir, daí afirma-se mesmo a natureza intrinsecamente linguística do pensamento,
discussão essa que permanece em aberto ainda hoje na filosofia. Mas uma vez que
toda teoria tem necessariamente uma formulação linguística e se constrói
linguisticamente, o problema da natureza da linguagem e do significado passa a
ser de grande importância para a epistemologia.
Isto remonta, oficialmente, o Círculo de Viena, quando os
pensadores como Wittgenstein, Moritz Schlick, Neurath, Carnap, etc.,
constataram que o problema da Filosofia não é mais nada senão a clarificação da
linguagem ou proposições científicas. Portanto, a convicção segundo a qual os
problemas filosóficos nada mais são senão problemas linguísticos conduziu
filósofos como: Moore, Wittgenstein, Russell e a escola de Viena a uma
reviravolta na investigação filosófica para o estudo da linguagem, daí que
recentemente, séculos XIX e XX a Filosofia da Linguagem tornou-se tão central
que em alguns círculos de filosofia analítica os problemas da filosofia em
geral foram tratados como problemas da filosofia da linguagem (MONDIN, 1980:
132-153).
Ainda no século XX, o filósofo austríaco Ludwig
Wittgenstein (1889-1951), na sua obra Tratado
lógico-filosófico, de 1929, sustentara aquela que seria a sua tese
fundamental: a função da linguagem é de
descrever a realidade, porque em rigor nada pode ser dado fora da linguagem.
Isto é, segundo ele:
As investigações sobre o sentido do mundo como totalidade não é assunto
para o filósofo, mas para o místico: "o sentimento do mundo como
totalidade limitada é o sentimento místico" (6.45). A filosofia não tem
nada a dizer sobre a forma lógica, já que a forma lógica é a condição de
possibilidade de toda e qualquer figuração e não pode, ela mesma, ser
afigurada. A forma lógica não se explica, se mostra e, o que pode ser mostrado
não pode ser dito (4.1212). Ao invés de especular sobre a totalidade do mundo e
da linguagem, a filosofia deveria ocupar-se de uma função mais modesta: a de
esclarecer a linguagem e ajudar a formular proposições claras. Nas palavras de
Wittgenstein: "O fim da filosofia é o esclarecimento lógico dos
pensamentos. (...) Cumpre à filosofia tornar claros e delimitar precisamente os
pensamentos, antes como que turvos e indistintos" (4.112).
Semiótica
A semiótica do
grego semeion, signo, segundo Saussure, é a ciência que estuda a vida dos signos
no seio da vida social. Ela ensinar-nos-ia em que consistem os signos, que leis
os regem. Considera-se a Charles Peirce (1839-1914), filósofo dos Estados
Unidos como o fundador da semiótica. Ainda que sempre se tenha prestado atenção
aos signos ele estrutura tal estudo como uma ciência.
Compreende-se que os comportamentos humanos tais como o
falar, não se explicam simplesmente como um estímulo-reflexo, mas vai mais além
pelo uso que se pode dar aos signos, como eles se relacionam com as coisas (res),
dotando-lhes de sentido. Na linguagem humana não acontece somente o estímulo
versus resposta, sempre instintivo que se dá na comunicação animal, mas há uma
capacidade de interpretar os sons que se configuram assim como signos. A
semiótica se orientou para uma estrutura ternária da compreensão da
comunicação.
A Semiótica do século XX vai demarcar-se claramente dos
estudos filosóficos dos signos em dois aspectos fundamentais:
a) Na definição do estatuto epistemológico dos estudos
semióticos, do lugar destes no contexto mais geral dos estudos científicos.
Esta preocupação é visível quer em Saussure (que enquadra a Semiologia,
enquanto teoria geral dos signos, na Psicologia Social e esta, por sua vez, na
Psicologia Geral, considerando, por outro lado, a Lingüística como parte da
Semiologia), quer em Peirce (para quem a Semiótica, enquanto ciência dos
signos, é uma ciência geral, uma espécie de "matemática universal"
que engloba todas as outras ciências).
b) Na sistematização da semiótica, com a sua conseqüente
subdivisão em disciplinas (nomeadamente, e a partir de Charles Morris, em
Sintaxe, Semântica e Pragmática) e a sua compendiação escolar. A moderna
"ciência dos signos" tem origem em duas diferentes tradições, que
podemos sintetizar em dois nomes: Semiologia (correspondente à tradição
européia, iniciada por Saussure) e Semiótica (correspondente à tradição
anglo-saxônica, iniciada por Peirce). Tendo o mesmo o radical (semeion, que se
pode traduzir por "signo" ou "sinal"), as duas palavras
traduzem, no entanto, duas maneiras diferentes de entender a "ciência dos
signos". Sendo:
Primeira: enquanto ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social;
Segunda: enquanto ciência que ensinar-nos-ia em que consistem os signos, que leis
os regem.
Signo linguístico, segundo Saussure, é o elemento que
estabelece a relação entre um conceito uma imagem sonora.
O
Signo linguístico
Signo = significante + significado
Forma acústica de
caráter linear Conceito
Entretanto, tantos os conceitos, como imagens sonoras são
entidades mentais. A imagem acústica ou sonora, não é o som material ou físico,
mas impressão psíquica dos sons, perceptível quando pensamos em uma palavra,
mas não a falamos. Os signos linguísticos permitem-nos manipular a linguagem
verbal quando recorremos à língua como código. Os signos linguísticos são
responsáveis pela representação das ideias, sendo os mesmos (signos), as
próprias palavras que por meio da fala ou da escrita, associamos a determinadas
ideias.
Neste caso, perceberia-se também por signo, toda a
unidade portadora de sentido, isto é, signo como instrumento de comunicação e
representação, na medida que, com ele, configuramos linguisticamente a
realidade e distinguimos os objectos entre si. Eles (os signos) são entidades
em que os sons ou sequências de sons ou as suas correspondências estão ligadas
com significados ou conteúdos. Os signos também podem ser chamados de símbolos ou sinais, dos quais podem ser naturais
(índice ou sintoma de algo que decorre ou vai decorrer: ex: nuvens ou fumo) ou substitutos
(ícones ex: fotografia, maquete de um
edifício, etc. e símbolos ex: a bandeira,
a cruz, bata, etc.).
Contrariamente às nuvens e fumaças, o signo linguístico é
artificial e é o propriamente dito, em oposição aos signos com expressão
derivada, como os sinais, os substitutos, etc. O signo linguístico é artificial
pois remonta uma relação arbitrária entre um significado e um significante,
segundo Saussure.
Arbitrariedade
do signo
Arbitrariedade: caracteriza a relação existente entre o significado
e o significante. A língua é arbitrária na medida em que é uma convenção
implícita entre os membros da sociedade que a usam; é nesse sentido que ela não
é natural. O conceito que exprime a palavra mar não tem relação de necessidade
com sequência de sons ou com a grafia de mar.
Linearidade
Os enunciados são sequências de elementos ordenados de
forma linear. É uma característica da Língua. Cada
morfema é uma sequência de fonemas, cada frase é uma sequência de morfemas,
cada discurso uma sequência de frases.
Semântica:
tratado sobre o significado
Semântica - é o estudo do significado na linguagem. Ela ocupa-se das
palavras e da sua significação. Ela pode, igualmente, ser definida como a
teoria das significações, análise dos diferentes elementos que constituem o
sentido de uma palavra. Estuda qual é a relação da linguagem com o mundo e como
nossas palavras se referem à realidade.
Teoria semântica: relaciona o nível ontológico e o nível
linguístico. Referência: o objeto de que falamos e Sentido: o modo como se diz
o objeto. Verdade: adequação do dito com o conhecido, segundo a teoria realista.
Na teoria realista o significado de uma expressão é a realidade a que a palavra
se refere. Tem-se assim uma concepção especular da linguagem, pois actua como
um espelho que reflete a realidade. Entretanto, esta maneira de conceber a
verdade, segundo a teoria realista, leva-nos a algumas inconveniências ou
problemas como os que se seguem:
a) Duas expressões podem referir-se à mesma realidade e
ter significados diferentes;
b) Outras palavras têm o mesmo significado e distinto
referente, dependendo de quem as pronuncie. Ex: Eu & tu
c) Palavras que não têm referência: Até &
contudo
Diferença
entre sentido e referência
Gottlob Frege distingue sentido (Sinn) de referência
(Bedeutung). A referência é o objeto nomeado pelo referente. O sentido é o modo
de dar-se este objecto. O sentido não é arbitrário, responde a uma forma de
dar-se do objecto. Toda expressão que tem uma referência tem um sentido, mas nem
sempre acontece o contrário.
Para os nomes isto acontece naturalmente, pois sempre tem
um referente, ainda que seja imaginário. Já para o que Frege chamava de
funções, que são aqueles termos que ocupam lugar na oração, mas não tem um
referencial concreto, a não ser posicionar os nomes que estão na oração, para
este há um referente que é o mesmo posicionamento dos termos na oração, mas não
tem propriamente um sentido.
O referente final de uma oração é seu valor de verdade.
Frege identifica o valor de uma oração com o sentido que ela expressa (sentido
é a forma de dar-se a realidade expressada na linguagem). Por esta expressão as
orações podem ser verdadeiras ou falsas. Verdadeiras se condizem com o sentido
que buscam explicitar, falsas se não chegam a conseguir este objetivo.
Os significados não são seres abstratos, são sempre
significados das palavras, não das coisas, mas sim das palavras. Não são o
real, mas sim uma forma de chegar ao real, a forma linguística. O modo como
captamos o significado está ligado ao uso que fazemos das palavras. Conhecemos
o significado quando somos capazes de usar corretamente as palavras. Como diz
Wittgenstein, existe uma íntima conexão entre o significado e o uso. Por isso,
há infinitas variações no significado de uma palavra segundo o uso que lhe
damos num contexto determinado. Sabemos o que significa porque sabemos
utiliza-la.
As palavras significam as coisas mediante os conceitos,
as palavras significam principalmente as coisas. Normalmente a referência é a
realidade extramental, mas pode ser também o mesmo conceito ou palavra enquanto
se faz referência a ele ou ela como algo existente. Por exemplo, quando se diz
que “palavra” tem sete letras.
A
questão do discurso
Da
fala à escrita
Discurso
É a manifestação da língua na comunicação viva; é a
participação do sujeito na sua linguagem através da fala do indivíduo. Nesta
manifestação (discurso), a língua comum a todos torna-se o veículo de uma
mensagem única, própria da estrutura particular de um determinado sujeito que
imprime sobre a estrutura obrigatória da língua uma marca específica, em que se
marca o sujeito sem que por tal ele tenha consciência disso.
O termo discurso designa qualquer enunciação que integre
nas suas estruturas o locutor e o auditor com o desejo do locutor influenciar o
auditor, daí que o discurso transforma-se no campo privilegiado da psicanálise.
Linguagem
como discurso
Breve
historial do problema
A questão da reflexão da linguagem como discurso começa
com os clássicos, sobretudo, Platão na sua obra Crátilo, ao conceber que “uma
palavra ou nome por si só não esgota o poder ou função da fala, isto é, uma
ideia complexa, pois a primeira unidade da linguagem e do pensamento tem a sua
existência no entrelaçamento entre um nome e um verbo” (RICOEUR, 1987: 13). Por
outras palavras, Platão (Teeteto e Sofista) pretende dizer que uma palavra por
si só não é verdadeira nem falsa, pois a veracidade e a falsidade só se encontram
numa frase onde se pode formular um juízo e não numa palavra.
Da análise feita sobre a questão da linguagem, verdade e
falsidade assim como palavra e frase, chega-se assim, ao primeiro contexto do
conceito de discurso o qual exige dois signos básicos (nome e verbo), o que vai além das palavras.
Neste caso, segundo Aristóteles (Ibidem), o discurso ou logos seria a conjunção
produzida pelo elo predicativo entre um nome (que encerra um significado) e um
verbo (que encerra também um significado e uma indicação do tempo). Mais uma
vez, é no discurso onde podemos encontrar a veracidade ou a falsidade.
Entretanto, nesta temática, a preocupação moderna da
linguagem como discurso centra-se no código linguístico que fornece uma
estrutura específica a cada um dos sistemas
linguísticos que são as diversas línguas faladas pelas diversas comunidades
linguísticas. Daí que a língua vai ser entendida como estrutura particular de
um determinado sistema linguístico (Idem: 14).
Portanto, no estruturalismo de Saussure, a linguagem foi
tida como o sistema auto-suficiente de relações internas o que leva ao
desaparecimento da linguagem como discurso. Isto é, a linguagem constitui um
mundo próprio, dentro do qual cada elemento se refere apenas a outros elementos
do mesmo sistema, graças a acção recíproca das oposições e diferenças
constitutivas do sistema.
As
fases do acto da fala
·
Primeira:
produção da cadeia sonora pelos órgãos de articulação e fonação;
·
Segunda:
transmissão da mensagem com ajuda de uma onda
sonora[1];
·
Terceira:
recepção da cadeia sonora, ou seja, sua interpretação como uma série de
elementos de valores distintivos.
Entretanto, a língua é necessária para que a fala seja
inteligível e produza todos os seus efeitos, isto é, para que a comunicação se
efectue. O acto de fala vem sempre antes da língua porque ela (a fala) está
depositada no cérebro e é a fala que evolui e exterioriza a língua.
Transmissão
fisiológica da imagem acústica
As imagens recebidas ao ouvir os outros é que modificam
os hábitos linguísticos dos falantes em comunicação e o ponto de partida será o
cérebro, onde os factos da consciência (os conceitos) se acham associados às
representações dos signos linguísticos ou imagens acústicas que servem para
exprimi-los.
É assim que um facto suscita no cérebro uma imagem
acústica, isto é, fenómeno psíquico, seguido de um processo fisiológico. Por
outras palavras, o cérebro transmite aos órgãos de fonação um impulso
correlativo da imagem, depois as ondas sonoras se propagam da boca do emissor
até ao ouvido do receptor, o que justifica um processo puramente físico; para
posteriormente, o circuito se prolongar até receptor numa ordem inversa do
ouvido ao cérebro.
No cérebro, acontece a associação psíquica dessa imagem
com o conceito correspondente. O termo (imagem acústica), para Saussure é a
representação natural da palavra enquanto facto da língua virtual, fora de toda
a realização da fala.
Escrita
É um conjunto de sistemas de sinais convencionados por
uma comunidade, destinado à fixação da linguagem num suporte material. As
línguas são reconhecidas através da escrita e que constitui a forma mais
adequada para estudá-la, todavia, a escrita é estranha ao sistema inteiro da
língua; é impossível fazer abstracções de um processo por meio do qual a língua
é representada, mesmo assim precisamos ainda de recorrer à escrita para estudar
uma determinada língua.
Língua e escrita são considerados dois sistemas
diferentes de signos. A escrita serve apenas como representação de uma língua.
Ambos combinados não representam absolutamente o objecto linguístico, que é
representado apenas pela palavra falada. Porém, esses dois sistemas se misturam
tão nitidamente que se tem a ilusão de que conhecendo um já se conhece o outro,
mas que não signifique a dependência da língua à escrita, pois a língua e a sua
evolução são independentes à escrita.
A
questão da linguagem no homem e no animal
A não ser que se prove o contrário, mas o certo é que se
acredita que a existência do pensamento e, consequentemente, a possibilidade de
raciocínio no homem só é possível graças a linguagem. Esta crença leva, muitas
vezes, o homem a cometer o erro de atribuir aos animais irracionais a faculdade
de raciocínio ou pensamento, pelo simples facto de também serem doptados de
linguagem.
Entretanto, no animal irracional, a linguagem visa a
adaptação à situação concreta, ao passo que, a linguagem humana intervém como
uma forma abstracta que distancia o homem da experiência vivida, tornando-o
capaz de reorganizá-la numa outra totalidade e lhe dar o novo sentido.
É pela linguagem (palavra) que o homem se situa no tempo,
a memória do passado e a previsão do futuro pelo pensamento. Enquanto o animal
vive sempre o presente, as dimensões humanas se ampliam para além de cada
momento. Mesmo quando o animal consegue resolver os seus problemas, a sua
inteligência é ainda concreta, mas o homem, pelo poder do símbolo, a sua inteligência
é abstracta.
Se a linguagem, por meio da representação simbólica e
abstracta, permite o distanciamento do homem em relação ao mundo, também é o
que possibilitará seu retorno ao mundo para transformá-lo. Portanto, se não tem
a oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, o homem torna-se
incapaz de compreender e agir sobre o mundo que o cerca.
A função do nome é de ressaltar um aspecto
particular de uma coisa e não referir-se exaustivamente a uma situação
concreta, mas apenas destacar e mencionar certo aspecto, pois no acto de
denominação escolhemos, no meio de multiplicidade e difusão dos nossos dados
sensoriais certos centros fixos de percepção que não são os mesmos do
pensamento lógico ou científico.
O pensamento abstracto só é possível, com eficiência,
através da linguagem verbal, pois o homem como animal que fala, a palavra é a
sua senha de entrada no mundo humano. É neste contexto que a linguagem
é definida como sistema de símbolos criados pelo próprio homem, isto é, signos
arbitrários em relação ao objecto que representam e, por isso mesmo,
convencionais, ou seja, dependentes de aceitação social.
A linguagem é, portanto, um sistema de representações
aceites por um grupo social, que possibilita a comunicação entre os integrantes
desse mesmo grupo; isto é, a linguagem é uma construção da razão, uma invenção
do sujeito para poder se aproximar da realidade e só pode existir onde há racionalidade
e nos permite transcender a nossa experiência.
O simples facto de nomear o objecto, nos distanciamos da
inteligência concreta animal, limitada ao aqui e agora e entramos no mundo do
simbólico, o nome é símbolo dos objectos que existem no mundo natural e das
entidades abstractas que só têm existência no nosso pensamento.
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