segunda-feira, 21 de setembro de 2015

RACIONALISMO CRITICO DE KARL POPPER

O racionalismo crítico de Popper e a epistemologia pós-popperiana.
Embora se fale de ciência ou de conhecimento científico em geral, a prática mostra que a ciência se desenvolve e se manifesta em diversos domínios autónomos, de tal modo que cada um destes domínios constitui uma ciência. Assim, podemos falar da Física, Biologia, Historia, Matemática, etc. Como sendo ciências autónomas, e, ao mesmo tempo, interdependentes. Portanto, não há uma só ciência, mas diversas ciências que apresentam aspectos comuns, os quais nos permitem classifica-las e agrupa-las. (CHAMBISSE, 2004: 112)
Karl Raimund Popper nasceu em Viena em 1902 e morreu no dia 17 de Setembro de 1994, critico em relação ao neo-positivismo, à Escola de Frankfurt e à filosofia analítica é maior filósofo da ciência do século XX e defensor da sociedade aberta (Estado Democrático). Ele nega o progresso científico considerado como acumulação de conhecimento. Ele diz que a ciência analisa e critica as teorias anteriores, e dá lugar as novas teorias com a nova realidade cientifica. De acordo com Popper a ciência não é acumulativo, pois é feito através das revoluções intelectuais e científicas. A verdade é um ideal regulador, e é nisso que consiste o progresso da ciência, que conheceu obstáculos (epistemológicos, ideológicos, económicos). Popper diz que temos um critério de progresso: uma teoria pode aproximar-se mais da verdade do que outra. Ele defende que o desenvolvimento da ciência conhece momentos de descontinuidade, ou seja, rupturas que separam uma fase da outra. Na ciência uma teoria ou conjunto de teorias funcionam sempre ligadas a um princípio geral (o paradigma). As ciências empíricas são sistemas de teorias. A Lógica do conhecimento científico pode ser apresentada como uma teoria de teorias. (POPPER, 1934:61)
Para Popper uma teoria é valida até o momento em que é refutada, mostrando-se a sua falsidade. Somente a falsidade de uma teoria pode ser provada, mas nunca a sua veracidade. Outro ponto destacado por Popper em suas reflexões sobre o conhecimento científico foi que a mente não é uma «tábua rasa» como pensam os empiristas. Para Popper, não existe observação pura, pois todas as observações são sempre realizadas à luz de pressupostos e de teorias prévias que o cientista traz consigo. E elas se confirmam ou não a partir da sua observação. O racionalismo crítico é a forma mais recente de racionalismo, defende uma razão aberta, porque disponível à crítica, que progride por conjecturas e refutações. Para eliminar os erros das teorias é necessária sujeita-las à refuntabilidadede. Nenhuma teoria pode aspirar a uma validade que não seja provisória. Enquanto resistir a experiencia e observações conduzidas com vistas à sua falsificabilidade, é verdadeira. Nesse sentido, a demarcação entre a ciência e metafísica não se baseia na distinção entre lógica indutiva e discurso especulativo, mas sim no facto de a ciência ser testavel e, como tal, falsificável, enquanto a metafísica não pode ser submetida a testes. A guerra contra a metafísica reduziu a ciência a prática observável. Mas toda a prática observável requer a aplicação de alguma teoria, e esta conjuga se dialecticamente com a experiência numa colaboração entre a razão e os sentidos, tal como defende o construtivismo (Idem)
1.1.Critica ao método indutivo
Segundo Popeer as hipóteses são conjecturas inventadas como tentativas de solução dos problemas. As hipóteses são frutos de esforços criativos, e não resultados de procedimentos rotineiros. Para ele, indicação não existe: não se verifica a indução por repetição. A teoria valida, basta eliminar todas as teorias falsas propostas como solução do problema; mas as teorias propostas para a solução de um problema são, em linha de princípio, infinitas, motivo pelo qual o procedimento da indução eliminatória é inexequível. Portanto, segundo Popper, não existe procedimento indutivo, e a ideia da mente como tábua rasa é um mito. (REAL 2006:142)
Para Karl Popper, a pesquisa não parte de observações, mas sempre de problemas. Um problema é uma expectativa desiludida. Em sua natureza lógica, um problema é uma contradição entre afirmações estabelecidas. A pesquisa, portanto, inicia-se com os problemas; buscamos precisamente a solução dos problemas. E para resolver os problemas, é necessária a imaginação criadora de hipóteses ou conjecturas; precisamos de criatividade, da criação de ideias “ novas e boas”, boas para a solução dos problemas. Ele critica o método indutivo e defende o método dedutivo. No passado o termo “indução” era usado principalmente em dois sentidos: indução repetitiva ou por enumeração; e indução por eliminação. A ideia de Karl Popper é que ambos os tipos de indução caem por terra. Escreve: “ A primeira é a indução repetitiva, que consiste em observações repetidas, observações que derivam fundamentar algumas generalizações da teoria. (Idem)
1.1.2. A demarcação da ciência e não-ciencia
Com o princípio de verificação, os neo-positivistas pretenderam estabelecer uma linha de demarcação entre linguagem sensata e a linguagem insensata. Diversamente dos neo-positivistas, Karl Popper propõe seu critério de falsificabilidade como critério de demarcação entre ciência empírica e não-ciencia: uma teoria pertence à ciência empírica apenas se puder ser desmentida ou falsificada pelos factos. A asserção “chove ou não chove” jamais poderá ser desmentida; ao passo que a proposição: amanha chovera aqui” pode ser desmentida (por um sol que brilha o dia inteiro). Segundo Karl Popper, a pesquisa é impossível sem ideias metafísicas. Do ponto de vista histórico, as ideias que antes flutuavam nas regiões metafísicas mais altas podem ser alcançadas com o crescimento da ciência e postas em contacto com ela, podem concretizar. Poucas teorias metafísicas exerceram maior influencia sobre o desenvolvimento da ciência do que a afirmação puramente metafísica de que existe uma substancia que pode transformar os metais vis em ouro, afirmação que, se não é falsificável, nunca foi verificada e na qual ninguém mais acredita. (CHABISSE, 2004:110/12)
1.1.3. O método científico e as teorias críticas
Todo o método científico se reduz a três palavras: problemas-conjecturas-tentativas de refutação. Popper diz que inventamos teorias para poder resolver problemas; e depois submetemos essas teorias ao controle dos fatos. Dada a assimetria lógica que existe entre verificação e falsificação de uma teoria (milhões de confirmações não tornam certa uma teoria; um facto contrario logicamente a destrói; cem milhões de confirmações não tornam certa a teoria “ todas as madeiras flutuam na agua”; um só pedaço de ébano que é madeira e que afunda – falas a teoria “ todas as madeiras flutuam na agua”), todo controle serio de uma teoria se resolve em uma tentativa de falsifica-la. E a descoberta do erro põe a comunidade cientifica na necessidade de propõe a prova uma teoria melhor do que a precedente, uma teoria com maior poder explicativo e previsível. Karl Popper nega o progresso científico considerado como acumulação de conhecimento. Ele diz que a ciência analisa e critica as teorias anteriores, e dá lugar as novas teorias com a nova realidade cientifica. De acordo com Popper a ciência não é acumulativo, pois é feito através das revoluções intelectuais e científicas.
Segundo ele, a verdade é um ideal regulador, e é nisso que consiste o progresso da ciência, que conheceu obstáculos (epistemológicos, ideológicos, económicos). Popper diz que temos um critério de progresso: uma teoria pode aproximar-se mais da verdade do que outra. Ele defende que o desenvolvimento da ciência conhece momentos de descontinuidade, ou seja, rupturas que separam uma fase da outra. Na ciência uma teoria ou conjunto de teorias funcionam sempre ligadas a um princípio geral (o paradigma). As ciências empíricas são sistemas de teorias. A Lógica do conhecimento científico pode ser apresentada como uma teoria de teorias. (POPPER, 1934:61)
Assim como existem as teorias científicas que respondem a problemas científicos, também existem as teorias filosóficas que respondem a problemas filosóficos: se a ciência pode oferecer teorias certas ou não; se a historia humana tem um sentido ou não; se as teorias se obtêm por indução ou por outro caminho; se os valores éticos são racionalmente fundados ou se e racionalidade das teorias filosóficas apenas se oferecem, ao contrario, a nossa escolha responsável; quais são os fundamentos da democracia; se e valido o determinismo ou então o indeterminismo; se o cérebro esta em grau de expiar a mente; se o futuro e previsível ou não etc. As teorias filosóficas existem; são sensatas; algumas delas são humana e socialmente da máxima importância; de algumas teorias filosóficas brotaram teorias científicas (pense-se no atomismo antigo e na teoria atómica actual). As teorias filosóficas, em todo caso, são filosóficas enquanto não são falsificáveis, todavia, existem teorias filosóficas que são racionais. As teorias filosóficas são racionais quando são criticáveis; e são criticáveis quando podem se chocar contra alguma teoria científica, algum teorema matemático, algum resultado de Lógica ou alguma outra teoria metafísica, aquisição das teóricas na época bem consolidadas e as quais não estamos dispostos a renunciar.
Para Karl Popper o critério de falsificabilidade não é um critério de significância, mas, é um critério de demarcação entre assertivas empíricas e assertivas não empíricas. Entretanto, dizer que uma assertiva ou conjunto de assertivas não é científico não implica em absoluto dizer que ele é insensato. As teorias científicas são e permanecem falsificáveis; e a história da ciência nos apresenta um número muito grande de teorias falsificadas, ao menos à luz do que hoje pensamos saber. Pois bem, as teorias falsas que tratam dos mesmos problemas e que, portanto, resultam confrontáveis. Popper propõe julga-las por meio de um critério de verossimilidade capaz de fazer tomar uma decisão adequada sobre qual seja entre teorias falsificadas a melhor, mais semelhante ao verdadeiro ou menos falsa, mais rica de conteúdo informativo, com maior poder explicativo e previsivo. (REAL, 2006: 147).
1.1.4. Popper contra o historicismo, o materialismo histórico e dialético
Popper critica o historicismo, ou seja, todas as filosofias que pretendem ter captado o sentido da história humana: o futuro não e previsível também porque não são previsíveis os desenvolvimentos da ciência, dos quais depende Contra historicismo, o materialism0 em grande parte a ordem da sociedade. Critica o materialismo histórico enquanto não e verdade que o aspecto económico e sempre determinante no desenvolvimento dos fatos sociais. Critica o materialismo dialéctico, porque, se não por outro motivo, histórico e um erro pernicioso confundir contradição das lógicas e contrastes e o materialismo dialéctico reais. Critica, mais amplamente, o marxismo enquanto, embora tenha nascido como ciência (com suas previrdes controláveis: teria estourado a reevocação nos países mais industrializados, teriam desaparecido as classes medias etc.), por alguns de seus representantes de prestígio foi imunizado pela critica, e terminou como "metafísica cruel". (REAL, 2006: 150)
Na opinião de Popper, as maiores ideias humanitárias são constituídos pela justiça e pela liberdade. Mas ele constrói uma hierarquia em que a liberdade vem antes da justiça, já que, em uma sociedade livre, mediante a crítica intensa e reformas sucessivas, também se poderá caminhar para a justiça, ao passo que, na sociedade fechada, na tirania ou na ditadura, onde não é possível a crítica, a justiça tampouco será alcançada. O racionalismo atribui valor à argumentação racional e à teoria, bem como ao controle com base na experiencia. (REAL 2006:144-146)
O racionalismo pode se acompanhar de uma atitude humanitária, muito melhor do que o irracionalismo, com sua rejeição da igualdade dos direitos. A igualdade diante da lei não é um fato, e sim uma instância política que repousa sobre opção moral. A fé na razão, inclusive na razão dos outros, implica a ideia de imparcialidade, de tolerância, de rejeição de toda pretensão autoritária. (Idem)                

1.1.5. A sociedade aberta e seus inimigos
Marx e, antes dele, Hegel e, na antiguidade, Platão, são inimigos da sociedade aberta. A sociedade aberta e a dirigida por instituição das (regras da democracia) que permitem a convivência do maior numero possível de ideias, de ideologias, A sociedade de valores, do mundo filosóficas ou religiosas. A convivência do maior número possível do mundo e valores aberta diferentes, mas nem de todos: a sociedade aberta e fechada e seus inimigos nas para os intolerantes. Platão envenenou toda a teoria política do Ocidente, ao perguntar: "quem deve governar?" Ele respondeu que os filósofos devem governar (aqueles que conhecem a verdade e que sabem o que e o bem). Depois dele aparecem as mais variadas respostas: devem governar os religiosos, os militares, os técnicos; deve governar esta ou aquela raça, esta ou aquela classe. Pois bem, Popper sustenta que a pergunta platónica é simplesmente irracional; ele nos manda buscar aquilo que não existe: não existe nem um indivíduo, nem um grupo, nem urna classe, nem urna raça que tenham vindo ao mundo com o atributo da soberania sobre os outros.
A sociedade aberta opõe-se a sociedade fechada, que é uma sociedade totalitária, concebida organicamente e organizada tribalmente segundo normas não modificáveis. A sociedade aberta, em contrapartida, baseia-se no exercício da razão humana, como sociedade que não apenas tolera como também estimula no seu interior e por meio de instituições democráticas a liberdade dos indivíduos e dos grupos, tendo em vista a solução dos problemas sociais, ou seja, as reformas contínuas. Nestas, os governados tem a possibilidade efectiva de criticar os seus governantes e de os substituir sem derramamento de sangue e sem que isso signifique que o democrática deva aceitar a ascensão do totalitário ao poder. Popper admite a possibilidade da revolução violeta, a qual só é justificada se for para derrubar um tirano. (IDEM)


Capitulo II
A epistemologia pos-popperiana
2.      Thomas Kuhn e a estrutura das revoluções científicas
Kuhn diz que temos uma revolução científica quando o velho paradigma é substituído por um novo paradigma; o caso exemplar de revolução científica é a coperniciana, m que a concepção geográfica é substituída pela heliocêntrica Kuhn descreve a passagem a um novo paradigma (da astronomia ptolemaica coperniciana, por exemplo) como urna reorienta-se gestaltica: quando abraça um novo paradigma, por exemplo, a comunidade científica manipula o mesmo número de dados que antes, mas inserindo-os em relações diferentes de antes disso, a passagem de um paradigma a outro, para Kuhn, constitui urna revolução científica. Mas e esse um dos problemas mais candentes suscitados por Kuhn como ocorre a passagem de um paradigma para outro? Essa passagem realiza-se por motivos racionais. Pois bem, Kuhn afirma que "paradigmas sucessivos nos dizem coisas diferentes sobre os objectos que povoam o universo e sobre o comportamento de tais objectos". E "precisamente por se tratar de uma passagem entre incomensuráveis, a passagem de um paradigma para outro, oposto se pode realizar com um passo cada vez, nem imposto pela 1ogica ou por uma experiência, neutra.
Como a reorientação gestaltista, ela deve se dar toda de uma vez realizarias de modo nenhum". Assim, talvez Max Planck tenha raiz quando, em sua Autobiografia, fez questão de observar com tristeza que "uma nova verdade cientifica n5o triunfa convencendo seus opositores e fazendo-lhes ver a luz, e sim muito mais porque seus opositores acabaram por morrer, e cresce urna nova geração ela habituada". Para outra realidade, Kuhn afirma que "a transferência da confiança de um paradigma para outra experiência não pode ser imposta pela força". Mas então por que, e em que bases, se verifica essa experiência de conversão? 0s cientistas em particular abraçam um novo paradigma por todo tipo de raízes e habitualmente, por vária raiz ao mesmo tempo. Algumas dessas raízes como, por exemplo, o culto ao sol, que contribuiu para converter Kepler ao copernicanismo encontram-se completamente fora da esfera da clínica. Outras raízes podem depender de autobiográficas e pessoais na nacionalidade ou a reputação anterior do inovador e de seus mestres pode, por vezes, desempenhar papel importante. Provavelmente, a pretensão mais importante posta pelos defensores de um novo paradigma seja a de estar em condições de resolver os problemas que levaram o velho paradigma em crise. Quando pode ser posta legitimamente, essa pretensão constitui frequentemente a argumentação a favor mais eficaz Alem disso, deve-se considerar que, por vezes, a aceitação de um novo paradigma não se deve ao fato de que ele resolve problemas que o velho paradigma não consegue resolver, e sim a promessas que dizem respeito a outros campos. E existem cientista ou um grupo de cientistas a aceitar um paradigma. Entretanto, afirma Kuhn, "nos debates sobre os paradigmas não se discutem realmente suas respectivas capacidades para resolver os problemas, ainda que, com razão, normalmente sejam utilizados termos que a eles se refiram.0 ponto em discussão, ao contrario, consiste em decidir que paradigma deve guiar a pesquisa no futuro, em torno de problemas que, muitas vezes, nenhum dos dois competido responde ainda pretender seja capaz de resolver completamente. E preciso decidir entre formas alternativas de desenvolver a actividade cientifica e, dadas as circunstâncias, essa descrição deve-se basear mais nas promessas futuras do que nas conquistas passadas. (Idem)
2.1. Imre Lakatos e a metodologia dos programas científicos de pesquisa
Para lmre Lakatos (1922-1974) - pensador de origem hungara, depois aluno e sucessivamente colega de Popper na London School of Economica cihcia ,foi e deveria ser uma competição  entre programas de pesquisa rivais. Um programa de pesquisa (por exemplo, o copernicanismo,
o mecanicismo de Descartes ou o de Newton, a teoria evolutiva de Darwin etc.) e constituído por um núcleo central (por exige foi e deveria no caso do copernicanismo, e a ideia de que o sol esta no centro do universo) que se mantém infalsificavel por decisão metodológica, enquanto a heurística negativa indica ao pesquisador anuais caminhos evitar, e a heurística wositiva indica anuais programas caminhos seguir. Pesquisas rivais não devem fazer morrer uma teoria de doença infantil; uma boa teoria tem necessidade de alento para mostrar seu valor.

Eis, então, que a heurística negativa constitui um cinto protector contra fatos que de outra forma feririam o núcleo (o hard-core do programa); enquanto a heurística positiva leva aos desenvolvimentos sucessivos da teoria (por exemplo, o desenvolvimento da teoria heliocêntrica de Copérnico a Galileu, a Kepler e a Newton). Um programa de pesquisa deve ser mantido enquanto e progressivo, se ao menos parte de suas previsões teóricas recebem confirmação, ou seja, se ele consegue predizer algum fato novo. Um programa que corre atrás dos fatos e regressivo ("que fato novo predisse o marxismo, digamos, desde1917?"). (Idem)

2.2. A epistemologia anárquica de Feyerabend
Paul K. Feyerabend (1924-1994), escreveu o texto clássico do anarquismo epistemológico. Feyerabend contesta a existência de um método que "contenha princípios firmes, imutáveis e absolutamente vinculantes como guia na actividade científica". E isso, a seu ver, aparece com toda clareza quando estes princípios por exemplo, os formulados por Popper ou também as regras por Lakatos são colocados em confronto com a efectiva história do método da ciência. Foram e por vezes devem ser violadas, se quisermos progresso na ciência.

O Progressos significativos na ciência aconteceram apenas porque "alguns pensadores ou decidiram não se deixar vincular por certas normas metodológicas "óbvias", ou porque involuntariamente as violaram"; por exemplo, adoptando hipóteses, aceitando hipóteses com menor conteúdo informativo do que outras, ou ate adoptando hipóteses contraditórias. Feyerabend procura confirmações de sua epistemologia anárquica no caso Galileu. Em sua opinião, não se deve pensar em um progresso da ciência dominável ou em todo caso reconstruirei com meios lógicos (teorias incluídas em, excluídas de, ou entrecruzadas com outras teorias), uma vez que as partes mais avançadas e mais gerais da ciência são incomensuráveis. (Idem)


Bibliografia

CHAMBISSE, Ernesto Daniel. A Emergência do Filosofar, 1ª ed., Moçambique Editora, Maputo, 2004
REALE, Giovanni & ANTISERI, Dário. História da filosofia, v. 7: de Freud à actualidade. São Paulo: Paulus, 2006.
POPPER, Karl Raimund. A lógica da pesquisa científica. Editora cultriz, São Paulo, 1934.



FILOSOFIA DA LINGUAGEM INTRODUCAO

LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA PARA SAUSSURE
Linguagem é todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de interação e comunicação. Pode ser verbal e não-verbal.
A linguagem é uma faculdade humana, uma capacidade que os homens têm para produzir, desenvolver, compreender a língua e outras manifestações simbólicas semelhantes à língua.
A linguagem é heterogênea e multifacetada: ela tem aspectos físicos, fisiológicos e psíquicos, e pertence tanto ao domínio individual quanto ao domínio social. O que Saussure pensa é que os homens têm uma capacidade para produzir sistemas simbólicos, ou seja, sistemas de conceitos associados a uma determinada forma, como a língua, as artes plásticas, o cinema, o teatro, a dança. Essa capacidade é a linguagem.
Para Saussure, é impossível descobrir a unidade da linguagem. Por isso, ela não pode ser estudada como uma categoria única de fatos humanos.

LÍNGUA
A língua é um princípio de classificação: uma forma de interpretar, organizar e categorizar o mundo.
Língua é um tipo de linguagem;  é a única modalidade de linguagem baseada em palavras.
Língua é a linguagem verbal utilizada por um grupo de indivíduos que constitui uma comunidade.

Por que a língua é um produto social?
A língua é um fenômeno que está além do domínio individual de cada um de nós.
É produto de uma comunidade, ela é parte do domínio dessa comunidade.
As línguas não se limitam a uma ou outra pessoa. Elas nascem e se desenvolvem no âmbito de um grupo social, não no âmbito individual.
Uma consequência do fato de a língua ser social é ela ser também convencional: ela existe e se mantém por um acordo coletivo tácito entre os falantes.
Isso significa que um falante de uma língua não pode fazer modificações nessa língua a seu bel prazer.
A comunicação humana seria impossível se a língua não fosse convencional.
Todas as manifestações da faculdade da linguagem, a língua é a que mais bem se presta a uma definição autônoma. Por isso, ela ocupa um lugar de destaque entre as manifestações da linguagem, e, como tal, deve ser tomada como base para o entendimento de todas essas outras manifestações.
A linguagem é uma capacidade humana, da qual a língua é um produto.
A língua é um fenômeno social e convencional.
Diferentemente da linguagem a língua é uma parte bem definida e essencial da faculdade da linguagem.
É um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, estabelecidas e adotadas por um grupo social para o exercício da faculdade da linguagem.
A língua é uma unidade por si só, pois trata-se de um fenómeno que está além do domínio individual de cada um de nós.
É produto de uma comunidade, ela é parte do domínio dessa comunidade.
Ela não se limita a uma ou outra pessoa. Ela nasce e se desenvolve no âmbito de um grupo social, não no âmbito individual.
Uma consequência do fato de a língua ser social é ela ser também convencional: ela existe e se mantém por um acordo coletivo tácito entre os falantes.
A língua é coletiva e social.
Ela é sistemática: quer dizer que ela é um sistema, ou seja, um conjunto organizado em que um elemento se define pela oposição a outros.
Independente (não é uma função do falante).
Produto que o indivíduo registra passivamente e é um sistema de signos.

FALA
Fala é a realização concreta da língua, feita por um indivíduo da comunidade  em um determinado momento. É um acto individual que cada membro pode efetuar com o uso da linguagem verbal. Daí que se pode resumir como manifestação ou concretização a língua.
Diferentemente da língua, a fala é assistemática por ser acto individual (particular e dependente) da vontade do falante; isto é, ao falar, o falante precisa fazer opções por uma ou outra maneira de dizer a mesma coisa, fazer escolha entre vocabulários; ou seja, a fala é o lugar da fantasia, da liberdade, da diversidade (conotação).
Para Saussure, a fala não deve ser estudada pela linguística, pois é secundária e assistemática.
Pessoas que falam a mesma língua conseguem comunicar-se porque, apesar das diferentes falas, há o uso da mesma língua. Ou seja, o código é o mesmo, embora a realização varie.

Filosofia da linguagem
Filosofia da linguagem, resumidamente, pode ser definida como parte da Filosofia que se dedica na reflexão da essência e natureza dos fenómenos linguísticos. Trata de um ponto de vista filosófico da natureza do significado linguístico, da referência, do uso da linguagem, do aprendizado da linguagem, da criatividade dos falantes, da compreensão da linguagem, da interpretação, dos aspectos linguísticos do pensamento e da experiência, da sintaxe, da semântica e da pragmática.

Breve historial do interesse da Filosofia pela linguagem
O interesse da filosofia pela linguagem, isto é, Filosofia da linguagem, pode ser encontrada já nos textos de Platão, Aristóteles e em autores estóicos na antiguidade clássica. Passando pela escolástica tomista que via na linguagem como um meio de comunicação dos conceitos, até Guilherme de Ockham, que via na linguagem nominal a subsituição dos mesmos. É com todo este cenário que testemunha uma importante simpatia da filosofia na análise da linguagem.
Os pré-socráticos ou simplesmente os clássicos se destacaram, de forma genérica, na sua tentativa de reflectirem sobre duas questões que os preocupavam, no que diz respeito à linguagem:
-        Primeira: a questão da origem da linguagem (se proveniente dos deuses ou elaborada pelo homem?);
-        Segunda: a questão da natureza da linguagem (se as palavras são signos convencionais ou  naturais das coisas?).
Donde Pitágoras, Demócrito, Empédocles são de opinião que a linguagem tem a sua origem dos deuses ou da natureza; os sofistas derivam a linguagem e sua função da convenção; Aristóteles é da opinião que a linguagem tem a sua origem convencional e a sua função é natural. Para Herder, a origem da linguagem é natural.
A linguagem torna-se um conceito filosoficamente importante sobretudo na medida em que, a partir do pensamento moderno, passa-se a considerá-la como elemento estruturador da relação do homem com o real. A partir, daí afirma-se mesmo a natureza intrinsecamente linguística do pensamento, discussão essa que permanece em aberto ainda hoje na filosofia. Mas uma vez que toda teoria tem necessariamente uma formulação linguística e se constrói linguisticamente, o problema da natureza da linguagem e do significado passa a ser de grande importância para a epistemologia.
Isto remonta, oficialmente, o Círculo de Viena, quando os pensadores como Wittgenstein, Moritz Schlick, Neurath, Carnap, etc., constataram que o problema da Filosofia não é mais nada senão a clarificação da linguagem ou proposições científicas. Portanto, a convicção segundo a qual os problemas filosóficos nada mais são senão problemas linguísticos conduziu filósofos como: Moore, Wittgenstein, Russell e a escola de Viena a uma reviravolta na investigação filosófica para o estudo da linguagem, daí que recentemente, séculos XIX e XX a Filosofia da Linguagem tornou-se tão central que em alguns círculos de filosofia analítica os problemas da filosofia em geral foram tratados como problemas da filosofia da linguagem (MONDIN, 1980: 132-153).
Ainda no século XX, o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951), na sua obra Tratado lógico-filosófico, de 1929, sustentara aquela que seria a sua tese fundamental: a função da linguagem é de descrever a realidade, porque em rigor nada pode ser dado fora da linguagem. Isto é, segundo ele:
As investigações sobre o sentido do mundo como totalidade não é assunto para o filósofo, mas para o místico: "o sentimento do mundo como totalidade limitada é o sentimento místico" (6.45). A filosofia não tem nada a dizer sobre a forma lógica, já que a forma lógica é a condição de possibilidade de toda e qualquer figuração e não pode, ela mesma, ser afigurada. A forma lógica não se explica, se mostra e, o que pode ser mostrado não pode ser dito (4.1212). Ao invés de especular sobre a totalidade do mundo e da linguagem, a filosofia deveria ocupar-se de uma função mais modesta: a de esclarecer a linguagem e ajudar a formular proposições claras. Nas palavras de Wittgenstein: "O fim da filosofia é o esclarecimento lógico dos pensamentos. (...) Cumpre à filosofia tornar claros e delimitar precisamente os pensamentos, antes como que turvos e indistintos" (4.112).


Semiótica
A semiótica do grego semeion, signo, segundo Saussure, é a ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social. Ela ensinar-nos-ia em que consistem os signos, que leis os regem. Considera-se a Charles Peirce (1839-1914), filósofo dos Estados Unidos como o fundador da semiótica. Ainda que sempre se tenha prestado atenção aos signos ele estrutura tal estudo como uma ciência.
Compreende-se que os comportamentos humanos tais como o falar, não se explicam simplesmente como um estímulo-reflexo, mas vai mais além pelo uso que se pode dar aos signos, como eles se relacionam com as coisas (res), dotando-lhes de sentido. Na linguagem humana não acontece somente o estímulo versus resposta, sempre instintivo que se dá na comunicação animal, mas há uma capacidade de interpretar os sons que se configuram assim como signos. A semiótica se orientou para uma estrutura ternária da compreensão da comunicação.
A Semiótica do século XX vai demarcar-se claramente dos estudos filosóficos dos signos em dois aspectos fundamentais:
a) Na definição do estatuto epistemológico dos estudos semióticos, do lugar destes no contexto mais geral dos estudos científicos. Esta preocupação é visível quer em Saussure (que enquadra a Semiologia, enquanto teoria geral dos signos, na Psicologia Social e esta, por sua vez, na Psicologia Geral, considerando, por outro lado, a Lingüística como parte da Semiologia), quer em Peirce (para quem a Semiótica, enquanto ciência dos signos, é uma ciência geral, uma espécie de "matemática universal" que engloba todas as outras ciências).
b) Na sistematização da semiótica, com a sua conseqüente subdivisão em disciplinas (nomeadamente, e a partir de Charles Morris, em Sintaxe, Semântica e Pragmática) e a sua compendiação escolar. A moderna "ciência dos signos" tem origem em duas diferentes tradições, que podemos sintetizar em dois nomes: Semiologia (correspondente à tradição européia, iniciada por Saussure) e Semiótica (correspondente à tradição anglo-saxônica, iniciada por Peirce). Tendo o mesmo o radical (semeion, que se pode traduzir por "signo" ou "sinal"), as duas palavras traduzem, no entanto, duas maneiras diferentes de entender a "ciência dos signos".  Sendo:
Primeira: enquanto ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social;
Segunda: enquanto ciência que ensinar-nos-ia em que consistem os signos, que leis os regem.

Signo linguístico, segundo Saussure, é o elemento que estabelece a relação entre um conceito uma imagem sonora.
O Signo linguístico
Signo = significante + significado
                                                                 
            Forma acústica de caráter linear            Conceito
Entretanto, tantos os conceitos, como imagens sonoras são entidades mentais. A imagem acústica ou sonora, não é o som material ou físico, mas impressão psíquica dos sons, perceptível quando pensamos em uma palavra, mas não a falamos. Os signos linguísticos permitem-nos manipular a linguagem verbal quando recorremos à língua como código. Os signos linguísticos são responsáveis pela representação das ideias, sendo os mesmos (signos), as próprias palavras que por meio da fala ou da escrita, associamos a determinadas ideias.
Neste caso, perceberia-se também por signo, toda a unidade portadora de sentido, isto é, signo como instrumento de comunicação e representação, na medida que, com ele, configuramos linguisticamente a realidade e distinguimos os objectos entre si. Eles (os signos) são entidades em que os sons ou sequências de sons ou as suas correspondências estão ligadas com significados ou conteúdos. Os signos também podem ser chamados de símbolos ou sinais, dos quais podem ser naturais (índice ou sintoma de algo que decorre ou vai decorrer: ex: nuvens ou fumo) ou substitutos (ícones ex: fotografia, maquete de um edifício, etc. e símbolos ex: a bandeira, a cruz, bata, etc.).
Contrariamente às nuvens e fumaças, o signo linguístico é artificial e é o propriamente dito, em oposição aos signos com expressão derivada, como os sinais, os substitutos, etc. O signo linguístico é artificial pois remonta uma relação arbitrária entre um significado e um significante, segundo Saussure.

Arbitrariedade do signo
Arbitrariedade: caracteriza a relação existente entre o significado e o significante. A língua é arbitrária na medida em que é uma convenção implícita entre os membros da sociedade que a usam; é nesse sentido que ela não é natural. O conceito que exprime a palavra mar não tem relação de necessidade com sequência de sons ou com a grafia de mar.
Linearidade
Os enunciados são sequências de elementos ordenados de forma linear. É uma característica da Língua. Cada morfema é uma sequência de fonemas, cada frase é uma sequência de morfemas, cada discurso uma sequência de frases.

Semântica: tratado sobre o significado
Semântica - é o estudo do significado na linguagem. Ela ocupa-se das palavras e da sua significação. Ela pode, igualmente, ser definida como a teoria das significações, análise dos diferentes elementos que constituem o sentido de uma palavra. Estuda qual é a relação da linguagem com o mundo e como nossas palavras se referem à realidade.  
Teoria semântica: relaciona o nível ontológico e o nível linguístico. Referência: o objeto de que falamos e Sentido: o modo como se diz o objeto. Verdade: adequação do dito com o conhecido, segundo a teoria realista. Na teoria realista o significado de uma expressão é a realidade a que a palavra se refere. Tem-se assim uma concepção especular da linguagem, pois actua como um espelho que reflete a realidade. Entretanto, esta maneira de conceber a verdade, segundo a teoria realista, leva-nos a algumas inconveniências ou problemas como os que se seguem: 
a) Duas expressões podem referir-se à mesma realidade e ter significados diferentes;
b) Outras palavras têm o mesmo significado e distinto referente, dependendo de quem as pronuncie. Ex: Eu & tu 
c) Palavras que não têm referência: Até & contudo 

Diferença entre sentido e referência
Gottlob Frege distingue sentido (Sinn) de referência (Bedeutung). A referência é o objeto nomeado pelo referente. O sentido é o modo de dar-se este objecto. O sentido não é arbitrário, responde a uma forma de dar-se do objecto. Toda expressão que tem uma referência tem um sentido, mas nem sempre acontece o contrário.
Para os nomes isto acontece naturalmente, pois sempre tem um referente, ainda que seja imaginário. Já para o que Frege chamava de funções, que são aqueles termos que ocupam lugar na oração, mas não tem um referencial concreto, a não ser posicionar os nomes que estão na oração, para este há um referente que é o mesmo posicionamento dos termos na oração, mas não tem propriamente um sentido. 
O referente final de uma oração é seu valor de verdade. Frege identifica o valor de uma oração com o sentido que ela expressa (sentido é a forma de dar-se a realidade expressada na linguagem). Por esta expressão as orações podem ser verdadeiras ou falsas. Verdadeiras se condizem com o sentido que buscam explicitar, falsas se não chegam a conseguir este objetivo. 
Os significados não são seres abstratos, são sempre significados das palavras, não das coisas, mas sim das palavras. Não são o real, mas sim uma forma de chegar ao real, a forma linguística. O modo como captamos o significado está ligado ao uso que fazemos das palavras. Conhecemos o significado quando somos capazes de usar corretamente as palavras. Como diz Wittgenstein, existe uma íntima conexão entre o significado e o uso. Por isso, há infinitas variações no significado de uma palavra segundo o uso que lhe damos num contexto determinado. Sabemos o que significa porque sabemos utiliza-la. 
As palavras significam as coisas mediante os conceitos, as palavras significam principalmente as coisas. Normalmente a referência é a realidade extramental, mas pode ser também o mesmo conceito ou palavra enquanto se faz referência a ele ou ela como algo existente. Por exemplo, quando se diz que “palavra” tem sete letras. 

A questão do discurso
Da fala à escrita
Discurso
É a manifestação da língua na comunicação viva; é a participação do sujeito na sua linguagem através da fala do indivíduo. Nesta manifestação (discurso), a língua comum a todos torna-se o veículo de uma mensagem única, própria da estrutura particular de um determinado sujeito que imprime sobre a estrutura obrigatória da língua uma marca específica, em que se marca o sujeito sem que por tal ele tenha consciência disso.
O termo discurso designa qualquer enunciação que integre nas suas estruturas o locutor e o auditor com o desejo do locutor influenciar o auditor, daí que o discurso transforma-se no campo privilegiado da psicanálise.

Linguagem como discurso
Breve historial do problema
A questão da reflexão da linguagem como discurso começa com os clássicos, sobretudo, Platão na sua obra Crátilo, ao conceber que “uma palavra ou nome por si só não esgota o poder ou função da fala, isto é, uma ideia complexa, pois a primeira unidade da linguagem e do pensamento tem a sua existência no entrelaçamento entre um nome e um verbo” (RICOEUR, 1987: 13). Por outras palavras, Platão (Teeteto e Sofista) pretende dizer que uma palavra por si só não é verdadeira nem falsa, pois a veracidade e a falsidade só se encontram numa frase onde se pode formular um juízo e não numa palavra.
Da análise feita sobre a questão da linguagem, verdade e falsidade assim como palavra e frase, chega-se assim, ao primeiro contexto do conceito de discurso o qual exige dois signos básicos (nome e verbo), o que vai além das palavras.
Neste caso, segundo Aristóteles (Ibidem), o discurso ou logos seria a conjunção produzida pelo elo predicativo entre um nome (que encerra um significado) e um verbo (que encerra também um significado e uma indicação do tempo). Mais uma vez, é no discurso onde podemos encontrar a veracidade ou a falsidade.
Entretanto, nesta temática, a preocupação moderna da linguagem como discurso centra-se no código linguístico que fornece uma estrutura específica a cada um dos sistemas linguísticos que são as diversas línguas faladas pelas diversas comunidades linguísticas. Daí que a língua vai ser entendida como estrutura particular de um determinado sistema linguístico (Idem: 14).
Portanto, no estruturalismo de Saussure, a linguagem foi tida como o sistema auto-suficiente de relações internas o que leva ao desaparecimento da linguagem como discurso. Isto é, a linguagem constitui um mundo próprio, dentro do qual cada elemento se refere apenas a outros elementos do mesmo sistema, graças a acção recíproca das oposições e diferenças constitutivas do sistema.

As fases do acto da fala
·         Primeira: produção da cadeia sonora pelos órgãos de articulação e fonação;
·         Segunda: transmissão da mensagem com ajuda de uma onda sonora[1];
·         Terceira: recepção da cadeia sonora, ou seja, sua interpretação como uma série de elementos de valores distintivos.
Entretanto, a língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos, isto é, para que a comunicação se efectue. O acto de fala vem sempre antes da língua porque ela (a fala) está depositada no cérebro e é a fala que evolui e exterioriza a língua.

Transmissão fisiológica da imagem acústica
As imagens recebidas ao ouvir os outros é que modificam os hábitos linguísticos dos falantes em comunicação e o ponto de partida será o cérebro, onde os factos da consciência (os conceitos) se acham associados às representações dos signos linguísticos ou imagens acústicas que servem para exprimi-los.
É assim que um facto suscita no cérebro uma imagem acústica, isto é, fenómeno psíquico, seguido de um processo fisiológico. Por outras palavras, o cérebro transmite aos órgãos de fonação um impulso correlativo da imagem, depois as ondas sonoras se propagam da boca do emissor até ao ouvido do receptor, o que justifica um processo puramente físico; para posteriormente, o circuito se prolongar até receptor numa ordem inversa do ouvido ao cérebro.
No cérebro, acontece a associação psíquica dessa imagem com o conceito correspondente. O termo (imagem acústica), para Saussure é a representação natural da palavra enquanto facto da língua virtual, fora de toda a realização da fala.

Escrita
É um conjunto de sistemas de sinais convencionados por uma comunidade, destinado à fixação da linguagem num suporte material. As línguas são reconhecidas através da escrita e que constitui a forma mais adequada para estudá-la, todavia, a escrita é estranha ao sistema inteiro da língua; é impossível fazer abstracções de um processo por meio do qual a língua é representada, mesmo assim precisamos ainda de recorrer à escrita para estudar uma determinada língua.
Língua e escrita são considerados dois sistemas diferentes de signos. A escrita serve apenas como representação de uma língua. Ambos combinados não representam absolutamente o objecto linguístico, que é representado apenas pela palavra falada. Porém, esses dois sistemas se misturam tão nitidamente que se tem a ilusão de que conhecendo um já se conhece o outro, mas que não signifique a dependência da língua à escrita, pois a língua e a sua evolução são independentes à escrita.

A questão da linguagem no homem e no animal
A não ser que se prove o contrário, mas o certo é que se acredita que a existência do pensamento e, consequentemente, a possibilidade de raciocínio no homem só é possível graças a linguagem. Esta crença leva, muitas vezes, o homem a cometer o erro de atribuir aos animais irracionais a faculdade de raciocínio ou pensamento, pelo simples facto de também serem doptados de linguagem.
Entretanto, no animal irracional, a linguagem visa a adaptação à situação concreta, ao passo que, a linguagem humana intervém como uma forma abstracta que distancia o homem da experiência vivida, tornando-o capaz de reorganizá-la numa outra totalidade e lhe dar o novo sentido.
É pela linguagem (palavra) que o homem se situa no tempo, a memória do passado e a previsão do futuro pelo pensamento. Enquanto o animal vive sempre o presente, as dimensões humanas se ampliam para além de cada momento. Mesmo quando o animal consegue resolver os seus problemas, a sua inteligência é ainda concreta, mas o homem, pelo poder do símbolo, a sua inteligência é abstracta.
Se a linguagem, por meio da representação simbólica e abstracta, permite o distanciamento do homem em relação ao mundo, também é o que possibilitará seu retorno ao mundo para transformá-lo. Portanto, se não tem a oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, o homem torna-se incapaz de compreender e agir sobre o mundo que o cerca.
A função do nome é de ressaltar um aspecto particular de uma coisa e não referir-se exaustivamente a uma situação concreta, mas apenas destacar e mencionar certo aspecto, pois no acto de denominação escolhemos, no meio de multiplicidade e difusão dos nossos dados sensoriais certos centros fixos de percepção que não são os mesmos do pensamento lógico ou científico.
O pensamento abstracto só é possível, com eficiência, através da linguagem verbal, pois o homem como animal que fala, a palavra é a sua senha de entrada no mundo humano. É neste contexto que a linguagem é definida como sistema de símbolos criados pelo próprio homem, isto é, signos arbitrários em relação ao objecto que representam e, por isso mesmo, convencionais, ou seja, dependentes de aceitação social.
A linguagem é, portanto, um sistema de representações aceites por um grupo social, que possibilita a comunicação entre os integrantes desse mesmo grupo; isto é, a linguagem é uma construção da razão, uma invenção do sujeito para poder se aproximar da realidade e só pode existir onde há racionalidade e nos permite transcender a nossa experiência.
O simples facto de nomear o objecto, nos distanciamos da inteligência concreta animal, limitada ao aqui e agora e entramos no mundo do simbólico, o nome é símbolo dos objectos que existem no mundo natural e das entidades abstractas que só têm existência no nosso pensamento.



[1] A força que se propaga no espaço e que é responsável pelos fenómenos acústicos.